Qualquer um pode receber a notícia: “Você tem câncer”.

26/10/2018

O médico chega para você e diz que você tem câncer e que a partir dali deve dedicar-se totalmente ao tratamento. Neste momento, seu mundo perde o chão. É como se tocasse o despertador do seu smartphone e você clicasse no modo “soneca” sabendo que em poucos minutos seu tempo de repouso irá acabar, só que o contrário. É um choque que lhe paralisa e logo ao sair do consultório tudo mudou.

Ao receber essa notícia, já me disseram, que é como se você morresse naquele momento e, em poucos segundos, nascesse outra pessoa. Você precisa repensar a sua vida. Quais são seus planos? O que lhe falta fazer em vida? O que é mais importante? Quem você ama de verdade?

O câncer, por uma série de razões, sempre foi recebido pelo ser humano culturalmente como uma sentença de morte. Os diagnósticos precoces, as terapias cada vez menos paliativas e os tratamentos suplementares mudaram esse estigma. É uma doença curável em boa parte dos casos, cada organismo, cada pessoa, reage de uma determinada forma à doença.

Para quem está fora da convivência com a doença é fácil dizer lute, reaja, tenha fé, pense positivo. Mas para quem está com a doença se manifestando em seu corpo é brutal. E essa relação ainda está inserida em um contexto, às vezes a pessoa tem problemas pessoais, familiares, financeiros... Os obstáculos se somam e o sofrimento se multiplica. Ou seja: ela tem a doença e as forças que tem para lutar não são tão grandes para superar TUDO.

Eu não tenho dúvida alguma que o desejo de se curar e a força interior fazem parte significativa do processo de cura. Além disso, para aqueles que já não têm possibilidade de cura, o carinho, o afeto e o conforto são os principais estímulos para se ter paz e serenidade nos dias que restam. Por isso, todo o apoio é sempre muito bem vindo.

Sem meias palavras, estar com câncer é entrar em uma guerra. O próprio tratamento é uma luta que agride, que dói, que dá náuseas e que sufoca. Tudo de ruim ao redor parece ser pior do que era. Por contra partida, pela fragilidade do corpo e da alma, também tudo de bom fica ainda mais valioso, toda beleza se torna única e toda ajuda se torna divina.

Nesse sentindo e com esse nobre objetivo, existe a “Liga de combate ao câncer” para ajudar de todas as formas quem mais sofre. É preciso muita coragem e amor no coração para se comover e abraçar essa causa sem medir esforços; simplesmente pela sensação de saber que se está fazendo o bem. Nesse mundo corrido e atarefado de hoje, em que o tempo é algo tão precioso e a maioria das pessoas olha somente para si; ceder-se, envolver-se, são atitudes que devem sim ser vangloriadas. A valorização e o reconhecimento desse grupo de mulheres, e homens, é o mínimo que devemos fazer; pois, um dia, qualquer um de nós pode receber a notícia: “você tem câncer”.

Nesse momento, respire fundo, olhe para o lado. Temos com quem contar. Você não está sozinho.

Dr. Eduardo Maio Zabaleta

Cirurgião oncológico

Médico regulador do estado da 15CRS