Pacientes reclamam de longo tempo de espera para atendimento de urgência no Hospital de Caridade de Palmeira das Missões
15/11/2024
Na matéria a seguir, os nomes dos entrevistados são fictícios, conforme os princípios do jornalismo, para garantir a privacidade dos envolvidos e a ética na reportagem.
Quem entra no Hospital de Caridade de Palmeira das Missões (HCPM) sempre se depara com a dúvida: será que o atendimento vai demorar? A incerteza e a expectativa são sentimentos comuns entre pacientes e familiares que recorrem ao HCPM em situações de emergência. Nos últimos tempos, a demora nos atendimentos têm sido motivo de queixas recorrentes, refletindo as preocupações da comunidade sobre a eficiência do serviço prestado.
Relatos de pacientes e familiares destacam horas de espera e dificuldades para acessar serviços essenciais de saúde no hospital, que é referência na região de Palmeira das Missões. A paciente Eva, por exemplo, conta que, ao procurar a Estratégia de Saúde da Família (ESF) de sua localidade, devido a fortes dores no abdômen e febre alta, foi encaminhada pelo médico do posto para o hospital, suspeitando de apendicite. Ao chegar ao HCPM, levou cerca de 3h30min para ser atendida.
– Cheguei ao hospital com muita dor e assustada, pois o médico do posto me pediu para ir imediatamente ao hospital para descartar apendicite. Fiz a ficha por volta das 21h15min, mas demorou um pouco para ser atendida na triagem. Após a triagem, as crises de dor eram fortíssimas, e a febre não baixava. Eu pensava que logo seria atendida, mas, quanto mais o tempo passava, mais dor e preocupação eu sentia. A fila foi aumentando, com várias pessoas esperando com seus filhos, pais e amigos. Algumas delas foram atendidas antes. Houve um momento em que uma mãe cansou de esperar e levou a filha para casa, pois ela já estava exausta de tanto esperar–, relata Eva.
Durante o tempo em que Eva permaneceu aguardando atendimento, ela conta que em nenhum momento houve uma explicação sobre a demora, e ninguém retornou para aferir sua temperatura ou questionar os pacientes que estavam esperando. “Eu estava com febre alta, muito cansada e com dores intensas no abdômen. Já fazia mais de duas horas que eu estava esperando para ser atendida. Então, uma das minhas filhas teve que ir para casa buscar medicação, pois a dor estava insuportável”, explica.
Uma das filhas de Eva, que a acompanhava, Ana Cristina, também compartilha sua experiência. “Posso dizer que o atendimento do hospital, em relação aos recepcionistas e porteiros, é satisfatório. Porém, em relação ao período entre a triagem e o atendimento médico, a situação é inexplicável. Ficamos no hospital por quase quatro horas esperando para ser atendida. O porteiro, todas as vezes que foi solicitado para chamar um médico ou enfermeiro para atender a paciente com febre alta, fez a solicitação. A resposta que vinha de dentro era sempre a mesma: o médico já iria atender. E assim passaram-se uma, duas, três, quase quatro horas até que ela fosse atendida”, relata.
Após esperar quase quatro horas pelo atendimento, Eva finalmente foi chamada para ser atendida. Após a consulta, recebeu a medicação necessária e passou a madrugada no hospital, aguardando os resultados dos exames. O tempo de espera e a incerteza sobre o diagnóstico agravaram o sofrimento da paciente, que, além das fortes dores no abdômen e febre alta, enfrentou a angústia de um atendimento demorado e a falta de informações durante a espera.
O atendimento médico em hospitais de urgência e emergência é, muitas vezes, a última linha de defesa para quem está enfrentando dores intensas e situações de saúde graves, como conta Ana Cristina. “As pessoas buscam pelo plantão do hospital quando não conseguiram mais resolver a sua dor em casa, quando já foram para um posto e de lá encaminharam para o hospital. Ninguém de Palmeira das Missões e região procura o hospital por pouca coisa, então, quando a gente chega lá é porque já está numa situação muito difícil. Ficar mais de 3 horas, 4 horas esperando por atendimento chega a ser desumano com as pessoas que estão lá sentindo dor”.
“Eu estava dilatando e já precisava fazer a cesariana de emergência, mas mesmo assim, tive que esperar”
Além de Eva, outro relato que chama atenção sobre a demora no atendimento é o de Joana, que enfrentou uma situação angustiante em plena noite de sábado. Ela já estava em trabalho de parto e, após sentir as primeiras contrações, procurou a clínica do seu obstetra, que rapidamente percebeu a necessidade de uma cesariana de emergência. O médico então avisou o hospital para que preparassem tudo para a sua chegada. Mesmo sabendo da urgência da situação, ao chegar no hospital, Joana se viu diante de uma série de obstáculos que agravaram ainda mais o sofrimento.
– Quando cheguei lá, com muitas contrações e dor, ainda tive que ficar na recepção esperando para fazer a ficha, entregando documentos, como se fosse um procedimento comum. O hospital já sabia da minha situação e, mesmo assim, fiquei mais de meia hora esperando até o quarto ser liberado. Eu estava dilatando e já precisava fazer a cesariana de emergência, mas mesmo assim, tive que esperar e, quando finalmente subiram para o quarto, as enfermeiras estavam desorganizadas, não sabiam se eu tinha que fazer exames ou não. Era uma enrolação atrás da outra até que, finalmente, fui levada para a sala de cirurgia", contou Joana.
No caso de Joana, que estava pagando pelo atendimento particular, a frustração foi ainda maior ao perceber que a demora e a falta de estrutura eram problemas comuns, independentemente do tipo de atendimento.
“Ficamos 3 horas esperando com um bebê de 1 mês e 20 dias”
Nas redes sociais, é rotineiro encontrar relatos de pacientes insatisfeitos com a demora nos atendimentos do Hospital de Caridade de Palmeira das Missões. O desabafo de uma mãe que buscou atendimento para seu filho de apenas 1 mês e 20 dias, após três noites consecutivas de choro sem parar, exemplifica o sofrimento de quem chega à unidade e precisa ser atendido com urgência.
–Boa tarde, peço licença, sei que aqui não é lugar para isso, mas não posso deixar passar mais uma vez. Nessa madrugada, estive no hospital de Palmeira das Missões com meu filho. Ele tem apenas 1 mês e 20 dias e estava chorando sem parar, sem dormir, já fazia três noites. Chegamos ao hospital e fomos fazer a ficha para consultar, mas o atendimento foi péssimo. Não havia ninguém para fazer a ficha e, para piorar, ficamos 3 horas esperando”, relata.
“Demora no atendimento gera sofrimento e frustração, mas profissionais do HCPM são reconhecidos pelo esforço”
A demora no atendimento tem sido apontada como o principal motivo de sofrimento para os pacientes que buscam o hospital em Palmeira das Missões. O Hospital de Caridade de Palmeira das Missões é referência em oito municípios, totalizando cerca de 58 mil habitantes, além de ser referência para 26 municípios pertencentes a 15ª Coordenadoria Regional de Saúde. No entanto, a sobrecarga de atendimentos e a escassez de profissionais, com apenas um médico para atender o plantão, tem gerado longas esperas e aumentado a frustração entre os pacientes.
Apesar das dificuldades enfrentadas pelos pacientes, muitos reconhecem o esforço e a dedicação dos médicos, enfermeiros e demais profissionais que lá trabalham, que, mesmo diante de tanta pressão e limitações, tentam proporcionar o melhor atendimento possível, como relata Claudia Farias em suas redes sociais. “Boa noite queridos. Quero agradecer imensamente a equipe da UE do hospital de caridade de Palmeira das Missões, pelo ótimo atendimento humanizado e de qualidade no dia do meu acidente, vocês me atenderam com respeito carinho e muito profissionalismo, que Deus abençoe imensamente suas vidas e de seus familiares, eu senti na pele como é ser um paciente e graças a Deus eu que precisei fui muito bem atendida, são ossos do ofício eu que a muito tempo atendo com carinho e respeito fui paciente. colegas e amigos vcs são especiais, continuem assim atendimento de qualidade...”
Em um post nas redes sociais, Ana Regina Paulo Kaiper fez questão de parabenizar e agradecer à equipe de plantão do Hospital de Caridade de Palmeira das Missões. Ela relatou que sua neta precisou de atendimento médico de urgência e, apesar das dificuldades enfrentadas por muitos, foi rapidamente atendida.
Juliano Monteiro Medino, enfermeiro e paciente, elogiou o atendimento recebido no Hospital de Caridade de Palmeira das Missões (HCPM) durante uma crise de doença de Crohn. Após chegar à emergência com fortes dores, ele destacou a agilidade e empatia da equipe. “Fui atendido com rapidez e cuidado, desde a recepção até o atendimento médico. Em menos de 10 minutos, já estava sendo medicado e em repouso. Parabéns aos profissionais Josimar, Clayton e Daiane, que se preocuparam em aliviar minha dor imediatamente”, escreveu Juliano em suas redes sociais, ressaltando a importância de mais profissionais com esse nível de comprometimento na saúde pública. Ele também reconheceu as dificuldades do serviço público, mas ressaltou que a dedicação de os profissionais fez toda a diferença.
Resposta do Hospital de Caridade de Palmeira das Missões
Questionados pela reportagem sobre a espera após a triagem para os diferentes níveis de prioridade, demoras no atendimento, horários de pico, como funciona o processo de triagem e como ele determina a prioridade de atendimento, quantos profissionais de saúde estão disponíveis para atender a demanda diária do hospital, quais medidas o hospital tem adotado para tentar reduzir o tempo de espera, planos para aumentar a equipe médica ou de enfermagem para agilizar o atendimento, como o hospital gerencia casos emergenciais que chegam durante períodos de alta demanda, como os pacientes são informados sobre o tempo estimado de espera após a triagem
e sobre o caso de Eva ,que esperou cerca de quatro horas para ser atendida, o hospital explica.
“Entendendo o fluxo de urgência/emergência do HC”
Atualmente, o Hospital de Caridade de Palmeira das Missões possui, no total, 100 leitos, sendo eles: leitos da clínica médica, clínica cirúrgica, pediatria, obstetrícia e leitos de UTI. Além da população local, o HC atende a 8 municípios da região, sendo eles: Sagrada Família, Boa Vista das Missões, Cerro Grande, Lajeado do Bugre, Jaboticaba, Novo Barreiro, São José das Missões e São Pedro das Missões, totalizando aproximadamente 58 mil habitantes. Em alguns serviços, somos referência para 26 municípios pertencentes à 15ª Coordenadoria Regional de Saúde. Nossa principal porta de entrada é a urgência/emergência, atendendo, em média, 80 pacientes por dia. A unidade conta com uma equipe multiprofissional (médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, fisioterapeuta, psicóloga e assistente social). Oferecemos em nossa linha de cuidados exames diagnósticos, como exames laboratoriais, tomografias, raio-X, ultrassonografia e terceirizamos outros exames quando necessário.
Quando o paciente busca atendimento, inicialmente ele passa pela admissão na recepção, realizando sua ficha de atendimento ambulatorial (FAA), sendo, em seguida, encaminhado para o acolhimento realizado pelo enfermeiro. Posteriormente, a partir da mensuração dos sinais vitais e relatos do paciente, é submetido à classificação de risco, que é feita em quatro cores: azul, verde, amarelo e vermelho, a qual determina o tempo de espera e o nível de prioridade do atendimento. Essas cores ajudam a equipe de saúde a avaliar rapidamente o estado de cada paciente e priorizar conforme necessário. Essa triagem é realizada por profissionais de saúde treinados e leva em consideração os sinais e sintomas apresentados pelo paciente.
A unidade de urgência/emergência funciona 24 horas por dia, incluindo finais de semana e feriados, atuando como apoio às unidades de saúde. Possui seu maior fluxo após as 17h, nos finais de semana e feriados, em virtude de as ESF estarem fechadas, o que resulta na predominância de fichas azuis nos atendimentos, fator que favorece a sobrecarga de profissionais e a superlotação de atendimentos. Além dos pacientes submetidos à classificação de risco, temos os pacientes considerados prioritários, como aqueles que são encaminhados via serviços de emergência, os quais não têm condições de passar pela sala de acolhimento e são classificados diretamente na sala de emergência. Salienta-se que os atendimentos de emergência são priorizados a partir das patologias com risco eminente de morte, dentre elas: infarto agudo do miocárdio, hemorragia, acidente vascular encefálico, politraumas, abdômen agudo, engasgo, intoxicações agudas, reações alérgicas graves, convulsões, acidentes automobilísticos, entre outras, as quais demandam o envolvimento de toda a equipe multiprofissional para o mais breve e eficaz desfecho do caso.
É de suma importância a conscientização dos usuários para buscarem as suas ESF (Estratégia de Saúde da Família) para acompanhamentos e consultas de rotina, coleta de exames e solicitações de receitas, priorizando os atendimentos hospitalares apenas em casos de urgência/emergência.
Por fim, qual a solução para resolver a demora nos atendimentos? Questionados sobre a possibilidade de aumentar o número de médicos ou enfermeiros para otimizar o atendimento, a administração do Hospital de Caridade de Palmeira das Missões não se posicionou até o fechamento desta edição.