O tiozão, a raiva e o papel
13/02/2025

Vez por outra, pego-me crítico em relação a tudo e a todos. Como se o mundo precisasse atender minhas expectativas mais elementares. Não sei a razão disso, não sei de onde vem. Gostaria de descobrir a razão de minha constante irritação. Essa penumbra que faz eu virar os olhos do que é belo, emocionante, apaixonante, vivo.
Esse sentimento não nasceu ontem, não creio que tenha um culpado. Veio progressivamente, com as estações. Verões mais quentes e menos coloridos; invernos mais frios e menos inspiradores. Mais lamento pelo passado, menos empolgação com o futuro. Principalmente, uma crítica invejosa em relação aos mais jovens. Como se atrevem? A minha geração foi a melhor, a que teve desafios mais emocionantes e difíceis. Como se atrevem a não nos reverenciar?
Os repulsivos jovens, com sua linguagem artificialmente diferente e seus segredos. Seus sonhos impossíveis, suas paixões desarrazoadas. Sua inconstância. Suas ondas extremas.
Pensando bem, acho que sou um jovem que produziu um enorme calo em sua vida. Um calo profundo. Quem o olha pensa que é uma couraça de proteção. Quem o tem sente apenas uma fisgada dolorosa, profunda e inesperada.
Sim, se chegou até aqui, aguarda uma virada edificante no texto que traga um sentido profundo, dissipando a melancolia. Aqui entre nós, se compreendeu os sinais, também já deve ser velho.
Então, lá vai: você não fica mais edificado com textos curtos! Precisa de uma longa antologia para lhe sacar uma emoção branda. Uma lágrima? Boa sorte, já conhecemos os truques dos textos e da vida. Sabemos quando é algo de verdade. Hoje em dia, quase nunca é.
Para mim, a maior parte do que chamam inovação vem de uma longa tubulação que serpenteia por uma fábrica empoeirada, com higiene duvidosa, e é depositada em uma lata, com um som parecido com um longo flato. Um glissando, efeito que ocorre quando uma nota desliza suavemente de uma altura para outra, irrompendo, sem urgência, todas as frequências intermediárias.
Disso você gostou né? Ainda existe raiva aí dentro. Esqueça Star Wars, a raiva não está no lado sombrio da força, é a apatia e a passividade que enterram as civilizações. Nossa raiva não é a raiva apaixonada dos jovens, não vamos sair por aí levando o mundo à guerra. Os joelhos ou a lombar não permitiriam.
Mas há um campo de batalha em que você está seguro para exercitar sua raiva preguiçosa de gente sem juventude: o papel. Apenas pegue uma folha de papel, uma caneta (ou um lápis) e vingue-se de todos esses sentimentos acumulados em seu coração. Seja um guerreiro viking, não faça prisioneiros em sua literatura.
Chega de redes, chega de público, não teremos vítimas ou testemunhas. Serão apenas você, o papel e as contas que precisam ser ajustadas. Concluindo logo ou não, guarde com cuidado o registro. Se sentir vergonha, queime. Se quiser retomar a batalha, escreva novamente. Esbofeteie acentos, atropele crases, ameace concordâncias, invente uma nova escrita, não importa. Só não seja bobo o suficiente para publicar em um Jornal.
Por: Vagner Felipe Kühn