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O Pragmatismo e a busca da verdade

O Pragmatismo e a busca da verdade

04/09/2018

A Guerra da Secessão, ocorrida entre 1861 e 1865, dilacerou os Estados Unidos da América, levando mais de um milhão de vidas de soldados e de civis. Nenhuma sociedade sobrevive a um evento catastrófico como esse sem uma profunda transformação. No campo filosófico, o pós-guerra fez emergir a mais genuína corrente filosófica dos Estados Unidos da América: o pragmatismo.
O pragmatismo norte-americano não corresponde a um movimento filosófico linear e homogêneo, mas é possível afirmar que essa perspectiva está presente no ideário coletivo, influenciando decisões do Estado. Não é sem razão, por exemplo, que o Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama (aluno e professor da Universidade de Harvard, onde o movimento teve muita repercussão) fez referência ao termo no pronunciamento que inaugurou seu primeiro mandato, em 2008. Fazia alusão a uma “agenda pragmática”, ações que seriam apoiadas por argumentos e evidências. Certamente, uma palavra para comunicar um elemento que é valorado positivamente por parte considerável da sociedade norte-americana. De uma forma ou de outra, esteve presente nos discursos presidenciais de democratas e republicanos.
Convenciona-se indicar o início do pragmatismo nas reuniões realizadas por alunos da Universidade de Cambridge, Massachusetts, para discussão da filosofia. Oliver Wendell Holmes Jr. fazia parte do grupo, que também contava com a participação de William James, Charles Sanders Peirce e Nicholas Saint John Green, entre outros. Tal grupo ficou conhecido como “O Clube Metafísico”. Essas figuras, sobreviventes da guerra civil, depois de observarem milhares marcharem para a morte certa, questionavam a forma como as pessoas acatavam verdades jamais demonstradas.
William James, na obra “Pragmatism”, representou muito bem essa perspectiva. O autor pragmatista caracterizou as ideias como elementos que não são válidos em si mesmos, mas indicadores, guias da conduta, da ação do sujeito. As ideias, segundo ele, precisam de comprovação para serem consideradas verificadas. A verdade estaria, assim, indissociavelmente ligada a um processo de verificação: “No momento em que o pragmatismo faz esta pergunta, ele vê a resposta: as ideias verdadeiras são aquelas que podemos assimilar, validar, corroborar e verificar. Ideias falsas são aquelas que não podemos. Essa é a diferença prática que nos faz ter ideias verdadeiras; que, portanto, é o significado da verdade [...] Esta tese é o que eu tenho que defender. A verdade de uma ideia não é uma propriedade estagnada inerente a ela. A verdade acontece com uma ideia. Torna-se verdade, é verdade pelos eventos”.
A postura provocativa ultrapassou os ramos da filosofia teórica, popularizando-se nos mais variados segmentos sociais. Um dos integrantes do referido “Clube Metafísico”, Oliver Wendell Holmes Jr., por meio dos inúmeros votos que proferiu como Ministro da Suprema Corte dos Estados Unidos, entre 1902 e 1932, e pelos estudos teóricos que produziu, permitiu que se operasse um processo de transição do pragmatismo como movimento filosófico para o pragmatismo jurídico. Não era algo totalmente novo, mas, como dizia William James, “um novo nome para antigas formas de pensar”.
Esse questionamento, nascido entre jovens sobreviventes da guerra, alerta-nos para os belos textos de autoridades ou líderes carismáticos que, não raro, conduzem milhares de pessoas à miséria. Lembra-nos que a linguagem pode ser manejada ao ponto de se transformar em um doce som aos ouvidos, mas uma melodia em completa dissonância com a realidade. Um discurso pode ser coerente, segundo seus conceitos internos, mas pode não passar de uma pilha de lixo se não tem qualquer respaldo de verificação com a realidade.