“É muito simples você querer fazer as coisas” | Policial aposentado dedica-se a preservar a natureza em Palmeira das Missões

21/02/2025

O policial militar da reserva, Vilson Antunes dos Santos, que reside em Palmeira das Missões desde 2007, dedica-se a uma tarefa que requer cuidado, atenção, resiliência e amor, plantar árvores nativas e frutíferas em diversos locais do município. Aos 60 anos, ele encontra nas atividades de arborização uma verdadeira terapia para o corpo e a mente, além de um compromisso pessoal com a preservação ambiental. “Desde criança, sempre gostei de cuidar da natureza. Para mim, plantar árvores não é apenas um gesto de preservação, mas também uma forma de aliviar os desgastes da minha profissão”, explica Santos, que atuou por mais de 30 anos na Polícia Militar.

Santos percorre o município de Palmeira das Missões plantando diversas espécies de árvores, tanto nativas quanto frutíferas. Ele não sabe ao certo quantas árvores já plantou ao longo de sua jornada, mas afirma que foram inúmeras, espalhadas por áreas de preservação permanente, beiras de rios, açudes, e espaços públicos.

A escolha das espécies não é aleatória. Vilson Antunes conta que, ao fazer mudas e plantar sementes e caroços de frutas de cada estação, consegue manter a diversidade de plantas o ano todo. No entanto, seu maior foco tem sido o resgate de frutíferas nativas. “Procuro, no entanto, resgatar frutíferas nativas que estão quase em extinção e que as novas gerações não conhecem, pois antigamente eram facilmente encontradas em meio aos matos, mas hoje quase não existem mais, como guabiroba, sete-capotes, uvaia, guabiju, araticum, butiá, cereja, ameixa amarela e tantas outras”, conta.

Desafios

Apesar de Santos se dedicar ao cultivo e à preservação de árvores frutíferas nativas, resgatando espécies que estão em extinção, sua ação não é isenta de críticas. “Sei que muitas pessoas não gostam ou não acham certo, e algumas até criticam, dizendo que fazem muita sujeira, que as crianças vão subir nas árvores e podem cair. Como vivemos em uma sociedade democrática, tenho que aceitar tranquilamente e seguir fazendo a minha parte. Por outro lado, recebo muitos elogios diariamente, além de apoio para molhar e adubar as plantas, pessoas que oferecem mudas, outras que pedem, e a todas as quais agradeço de coração”, comenta.

Benefícios das árvores frutíferas para a cidade e seus moradores

As árvores frutíferas oferecem uma série de benefícios tanto para a cidade como para seus moradores, e muitos desses benefícios são ainda pouco explorados. De acordo com Santos essas árvores são um recurso acessível a todos, fornecendo frutas frescas e livres de agrotóxicos. “Elas estão à disposição de todos, totalmente gratuitas e livres de agrotóxicos. Hoje, a grande maioria das pessoas vivem em prédios e não tem acesso direto a uma árvore frutífera para fazer, por exemplo, um suco fresco”, diz. Além disso, ele destaca o papel essencial que essas árvores desempenham na natureza. “As árvores alimentam os pássaros, que, ao se alimentar delas, disseminam as sementes pela cidade, ajudando no processo natural de arborização”, diz.

Ao falar sobre a importância de seu trabalho com as árvores frutíferas, explica que não se trata apenas de plantar, mas de um cuidado constante e dedicado. “Estou fazendo minha parte como cidadão. É uma tarefa árdua e desgastante; não basta simplesmente plantar, pois cada muda é como se fosse uma criança e, pelo menos nos dois primeiros anos, precisa de vários cuidados para se desenvolver. Por isso, é necessário molhar, limpar, podar e fazer muitos outros cuidados. Para isso, percorro, em média, 10 km a pé por dia, aliando isso a outro hobby, que é a caminhada. Então, o que posso pedir é que as pessoas ajudem a cuidar e não danifiquem intencionalmente o que já está sendo feito, o que já é uma grande ajuda”, ressalta.

Sobre os planos de expansão do seu projeto, Santos explica que já está plantando em diversos locais, inclusive em outras cidades. “Como moro em apartamento, não tenho como produzir as mudas sozinho, mas conto com o apoio do meu pai, Atílio Pedrotti, de 86 anos, que vive em Cruz Alta. Ele tem uma horta e cuida das mudas que produzimos em caixas de leite e latas até o ponto de serem plantadas”.

Para Santos, fica evidente que seu trabalho vai muito além do simples ato de plantar. É um compromisso com o meio ambiente e com as futuras gerações, um esforço diário que depende tanto do cuidado contínuo quanto da consciência coletiva. Ao transformar espaços urbanos em áreas mais verdes e produtivas, ele deixa um legado que se espalha para além de Palmeira das Missões, e convida a comunidade a fazer parte dessa missão.